Sobre as Redes
IA, Studio Ghibli e o Algoritmo Insaciável
Uma nova polêmica surgiu em virtude de uma trend em que a IA emulava imagens usando como referência as obras do Studio Ghibli.
Os Studio Ghibli, assim como a vasta maioria dos artistas, tem sido muito contra ao uso de Inteligência Artificial para criação de imagens usando como referência artistas reais.
Não a toa!
Os escândalos já foram muitos, como uma mudança nas diretrizes de plataformas como a Meta e a Adobe dizendo que usariam como banco de dados para alimentar e treinar as próprias Inteligências Artificiais, não deixando sequer a opção da negativa: iremos pegar e pronto!
No caso da Meta, isso levou uma leva de usuários artistas a desativarem seus perfis, mas é aquilo, as pessoas precisam divulgar a sua arte, e onde divulgar se não em redes sociais? Fazendo com que o processo de extorsão por meio das grandes corporações, a andorinha sozinha não vai fazer verão.
No caso da Adobe, o buraco era ainda mais embaixo, uma vez que isso interferia diretamente no direito de Copyrught: ora, como você vai registrar suas obras se ela está pública?
Agora chegou a vez do Studio Ghibli que se sentiu afrontado ao ver o estilo de suas obras sendo emulados pelas Inteligências Artificiais.
Eu não tiro a razão dos artistas e nem do Studio Ghibli, porém, vou trazer algumas reflexões a respeito do tema.
ALGORITMO INSACIÁVEL
Majoritariamente, o uso de IA tem servido para alimentar um Algoritmo Insaciável!
Nunca antes a demanda por se criar conteúdo em massa aconteceu, o que, na verdade, tem tornado tanto a vida do criador de conteúdo muito maçante para lidar com uma ferramenta que nunca fica satisfeita, quanto para o expectador ficar em uma timeline infinita de conteúdos aleatórios.
Já falei aqui no blog a respeito da Teoria da Internet Morta, e, se por um lado a IA pode ajudar criadores a criar mais conteúdos em uma velocidade menor, o fluxo de conteúdo inútil gerado por IA também tem tomado um espaço considerável, engolindo os conteúdos orgânicos.
O melhor exemplo para esse caso é o Pinterest. Se antes você entrava no Pinterest atrás de ideias aplicáveis e inspirações, o fluxo de conteúdos gerados por IA - assim como a quantidade desgastante de anúncios que nos confundem com conteúdo real e não produtos - tem deixado a experiência na plataforma extremamente inútil. IA cria imagens irrealistas que podem ser interessantes para determinadas finalidades, mas definitivamente, não são úteis para quem está tentando inspirar ou aplicar ideias.
Outro ponto é que cada vez mais nos acostumamos a identificar imagens geradas por IA mais rápido e o desinteresse por aquilo passa muito rápido.
Assim que as IA saíram, era bem interessante ver uma ou outra imagem bem elaborada feita por IA, e não só imagens, como vídeos e algumas musiquinhas. Porém, com o uso, fica batido e desinteressante, só tendo utilidade, justamente, para formular memes e conteúdos descartáveis para a internet.
Ninguém que fez a trend de fotos no formato Studio Ghibli vai pegar essas imagens e vender, por exemplo, e ninguém vai ficar interessado, por exemplo, em pegar a foto que eu, Natacha, gerei para ficar republicando e repassando. O uso é puramente individual sem intenções mercantis ou de compartilhamento, só para uns likes aqui e ali.
Ou seja, o entretenimento pelo entretenimento. Sem valor e nem peso. Uma mera: trend!
O que são trends senão tendências rápidas que tem validade que variam de um dia para uma semana.
O que se usa de IA nunca terá a força para substituir uma obra para ser publicada. Há um trabalho gigantesco por trás disso, muitas mentes operando para fazer a máquina funcionar. Nem mesmo a IA dá conta.
Um filme não se faz apenas com roteiro e somente a força humana é capaz de criar algo conhecendo as limitações daquela obra.
Se a IA mandar você fazer uma obra em que os personagens conversam embaixo d'água, se esse filma não for desenho, nós sabemos que não será possível fazer um filme todo filmado, com diálogos embaixo d'água. E só quem conhece as limitações somos nós.
Logo, isso irá se aplicar a tudo: roupas, maquiagens, cenários...
Quando se escreve um roteiro, se leva em consideração esses aspectos: será possível realizar tal coisa? E assim, vamos criando a história dentro das limitações possíveis.
Então, a meu ver, por mais que os gananciosos se empolguem em fazer roteiros por IA e até usar atores por IA, a experiência será desastrosa, pois nós, humanos, observamos com muita estranheza o que não é natural e pode até ser que a novidade inicial atraia o público, mas, passada a novidade, cairia em ostracismo como já ocorreu em outras ocasiões em que se tentou substituir a criatividade humana por automações.
Vou dar como exemplo CGI: a pressa em finalizar séries e economizar nos deram um final pavoroso em Game of Thrones. Se você pegar os efeitos da trilogia Senhor dos Anéis, feita antes de seus lançamentos entre 2001 e 2003, ou seja, ainda na década de 1990, e comparar com a ultima temporada e a batalha final mais importante que sai em 2019, o que foi feito anteriormente é muito superior ao que foi feito 20 anos depois.
Ou seja, não é porque a tecnologia avançou que isso tenha trazido resultados positivos, porque a crítica ao Game of Thrones foi imensa. Não saber usar a tecnologia ou usar de qualquer jeito não vai agradar o público ou vender.
Exemplos assim tem aos montes.
Então, eu não acredito na Inteligência Artificial enquanto substituto, mas sim, tal como ela é, uma ferramenta.
APROVEITA O ENGAJAMENTO ORGÂNICO, STUDIO GHIBLI
Eu só conheço o Studio Ghibli, porque eu estou inserida no universo de animes.
Mas antes de assistir animes, se alguém citasse Studio Ghibli, eu não teria ideia do tipo de produção que esse estúdio trabalha. "Ah, mas já ganhou o Oscar". O tanto de filme que já ganhou o Oscar e eu nunca nem vi e nem suspeito que tenha ganhado. É aquilo: ou você conhece, ou você não conhece.
Quando uma trend assim viraliza, o estúdio tem a oportunidade de divulgar seu material e elevar as vendas e publicidades.
Isso não significa não manter as críticas sobre o mal uso de IA's, mas é saber separar uma coisa da outra.
Como eu disse, conteúdos viralizantes só servem para alimentar um algoritmo insaciável que se entedia fácil.
Trends acabam do mesmo jeito que começam.
Não tem valor, não tem peso.
As pessoas ficaram feliz em ver imagens suas como animação do Studio Ghibli, o que significa o apreço às obras e às animações feitas. Eu não acho nem de bom tom rechaçar a atitude do público dessa forma, uma vez que, novamente, não são conteúdos com valor material, apenas valor pessoal.
O Studio Ghibli podia ter feito ações promocionais em cima disso, incentivando mais e atraindo mais público, ao invés de ficar rancoroso com algo que, acabada a trend, não terá nenhuma relevância.
É importante saber tirar bom proveito das situações que aparecem, mesmo quando elas não nos apetecem.
De qualquer forma, mesmo não aproveitando da melhor forma, o Studio Ghibli teve destaque e muita gente agora vai conhecer as suas maravilhosas obras.
Há males que vem para o bem.
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