CAPÍTULO 37
A primeira geração de meninas que desconheceram o contexto anterior começa a crescer.
É maravilhoso acompanhar o desenvolvimento de garotas livres.
Não há a preocupação materna de alguém violar sua criança.
Os modos se foram: não precisa se preocupar em fechar as pernas ou ter o cuidado de não aparecer a calcinha...
Como era terrível a vida antes.
Termos que ensinar modos às meninas por causa de homens adultos incapazes de controlar a si próprios.
Nos banhos coletivos, piscinas e termas, as meninas podiam ir e vir. A prática de hostilidade, por mínima que fosse, era passível de banimento e banimento nos nossos termos era a aniquilação.
Nada de nomes e apelidos jocosos, nada de bullying, ninguém estava disputando a atenção de homem por medo de ficar solteira, não havia mais a rivalidade feminina.
Ao contrário do que se possa imaginar, as mulheres ficaram ainda mais belas.
Maquiagens, produtos de beleza e procedimentos que vieram por milênios deformando nossos não poupando nenhuma parte dele - plástica no rosto, alongamento de pescoço, amarras para os pés ficarem pequenos - nada disso era necessário mais.
Tínhamos beleza e identidade.
Livre das amarras, ficamos criativas e podíamos trabalhar em cima dela.
Nada era sexualizado, afinal, não se estava tentando seduzir ninguém.
Tínhamos rotinas diárias.
Cuidávamos das ruas, das casas e de nós mesmas.
Exercícios faciais e corporais, massagens, autocuidado... tudo isso era trabalhado e compartilhado.
A alimentação era saudável... corpos magros ou obesos ou deformados por cintas não faziam mais parte dessa nova realidade.
Cabelos naturais, sem química ou tintas. Podia-se abraçar o grisalho sem medo... grisalho esse que passou a acontecer mais tarde. A preocupação deixar nossos cabelos brancos não é um mito. E quando se tirou a preocupação de cena e se alcançou o conforto, os brancos só passaram a vir bem depois.
Trocávamos informações com as outras Colmeias e, com isso, cada vez mais conseguíamos implementar as melhores práticas de saúde e bem-estar.
Estávamos lindas e naturais. Corpos belíssimos, pele iluminada... a sociedade anterior nunca pôde contemplar a beleza feminina em seu ápice.
As escolas receberam uma nova metodologia voltada para a nova sociedade.
Nossos testes comprovaram que o Q.I. das meninas subiu números impressionantes, afinal, saiu de cena o "isso não é coisa para menina".
Agora tudo era coisa de menina e elas passaram a fazer coisas impressionantes quando viraram mulheres.
Nenhuma área deixou de ser desenvolvida.
Da agricultura ao aeroespacial, dominamos todas as áreas e a ciência evoluiu como nunca.
Raríssimas as ocasiões de morte por doença. Não precisamos lidar com a ignorância plantada por homens tolos que convenciam as mulheres tolas de suas tolices.
Uma sociedade funcional e saudável.
Todas tinham obrigações a cumprir dentro da nossa nova sociedade. As regras de boa convivência precisavam ser respeitadas sem que com isso se retirasse a individualidade de ninguém.
Peças e apresentações musicais, bares e boates continuaram funcionando... com mulheres indo e vindo e se divertindo livremente.
Me peguei pensando várias vezes se eu morri e parei no paraíso... afinal, um paraíso deve ser assim.
Mas lembro dos sangues nas minhas mãos e tenho a certeza de que não.
Afinal, para se chegar ao paraíso é preciso, primeiro, enfrentar as profundezas do inferno e eu enfrentei e venci.
Por isso que hoje estamos aqui.
No nosso Paraíso Particular que Deus, um dia, se negou a nos entregar quando criou tão maléfica criatura.
O demônio a ser combatido eram eles, os homens.
Quer dizer, Deus, que essa era a nossa provação?
Afinal, esses mesmos homens mataram seu filho.
E para isso, você nos designou para matarmos quem matou o seu filho, mesmo que isso significasse matar também os nossos.
Acredito que estamos quites.
Diário da Anciã. Parte 37.
------ Fim do Capítulo 37 de "A Colmeia: O Início".
🔺Plágio é crime previsto pela Lei 9.610/98 e medidas cabíveis serão tomadas em caso de apropriação indevida. 🔺
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