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Imagem de Reprodução mais edição. |
Após o vídeo intitulado "adultização" feito pelo criador Felca, reacende-se no Brasil o debate sobre a regulação das redes, principalmente no que concerne à exposição de crianças e adolescentes em situações vexatórias e sexualizadas.
Esse debate não é novo, essas denúncias vem sendo feitas há anos seja aqui no Brasil, seja no exterior. Inclusive, esse ano mesmo abordamos o tema aqui no blog.
Em 18 de fevereiro de 2019, o criador MattsWhatItIs já havia denunciado como os pedófilos atuavam e se comunicavam no YouTube em vídeos voltados ao público infantil feito por criadores mirins.
Aqui no Brasil, quem trouxe o debate a tona foi o YouTuber Felipe Neto que traduz as informações trazidas pelo Matts em português e acrescenta maiores informações sobre a atuação da rede com os conteúdos nacionais.
Essas denúncias geraram mudanças consideráveis na plataforma YouTube, que passou a não permitir comentários em conteúdos com criadores mirins, ou onde crianças apareceriam - conteúdos "família" - ou voltados ao público infantil. Sempre que você vai subir um vídeo para a plataforma, é necessário informar se esse conteúdo é voltado para o público infantil ou se possu criança no vídeo. A ferramenta de detecção desse tipo de conteúdo é tão eficiente no YouTube que uma vez ele sinalizou um Shorts que eu criei usando um filtro que te transforma em criança. Veja, não havia criança no vídeo, mas a mera referência a se ter uma e não ser devidamente sinalizado para a plataforma já fez com que o Youtube privasse os comentários e me notificasse. Para evitar que crianças caíssem em vídeos animados, porém voltados ao público jovem adulto, o YouTube passou a disponibilizar um acesso específico para o público infantil, o YouTube Kids. Dessa forma, crianças que usam a plataforma não cairão acidentalmente em um vídeo que não é voltado para a idade delas. Claro que o sistema não é infalível, uma vez que há uma rede de pessoas mal intencionadas com o claro objetivo de burlar a segurança da plataforma tal como se fosse um desafio a ser cumprido: "vejam, eu burlei o algoritmo do YouTube", o que acaba tornando tudo muito cansativo, uma vez que, por óbvio, esse assunto deveria contar com a colaboração de todos, mas ferramentas são criadas justamente por causa de pessoas ruins.
Atualmente, com essas medidas, o Youtube já vem sendo considerada uma plataforma segura para crianças. Porém, plataformas com Tik Tok não possui um sistema de segurança quando o assunto é exposição de menores, tornando impossível remover vídeos com teor apelativo e explorativo da plataforma. Os escândalos foram muitos, aqui no Brasil e lá fora, e o Tik Tok, mesmo com o volumoso número de denúncias ao conteúdo não derrubava as contas. O mais escandalosos dos casos que eu vi até o momento foi o de uma mãe que à primeira vista parecia estar criando conteúdos voltados para comunidade de mães, mas logo notou-se a perversidade por trás de interações que pareciam inocentes. Filmando a filha de 1 ano, a mãe dava frutas com formatos fálicos para a criança comer, filmava em ângulos sugestivos e o fim da picada foi essa mulher filmar a filha com uma lâmina de barbear emulando que estava raspando as partes íntimas. Ali, toda a conversinha de que a maldade estava nos olhos das pessoas caiu por terra. Acrescentando isso ao fato de que as filmagens eram feitas "à pedido" do que era solicitado nos comentários por perfis falsos e o fato de que a conta era monetizada, essa mulher explorou a imagem da própria bebê, colocando-a no radar de pervertidos, uma vez que já era sabido da negligência dessa mãe, ficava óbvio que essa mulher não tinha a competência e nem a vontade de proteger essa criança de pessoas mal intencionadas. O caso foi tão absurdo que o FBI alertou a essa mulher que o vídeo da filha estava circulando no submundo dos conteúdos infantis para pervertidos e essa mulher continuou postando!
E o que o Tik Tok fez após um conteúdo escancarado desses? Nada! O Tik Tok não fez nada. Não adiantava denúncias, não adiantava nada! O Tik Tok simplesmente deixou aquele conteúdo no ar, para escândalo de todos.
Perfis como o da Andressa Catty, Sheylli Caleffi, Bruna Volpi entre outros perfis cansaram de denunciar perfis que exploravam imagens de crianças e adolescentes e o do perfil da Sheylli mais especificamente é voltado para alertar os pais sobre os perigos que as crianças correm ao serem expostas na internet.
De acordo com o Núcleo Jornalismo, o Kwai deliberadamente entrega conteúdos envolvendo menores de idade.
O Kwai chegou a proibir qualquer criança em seus vídeos, mas a medida acabou caindo na própria plataforma, já que as outras plataformas seguiram expondo menores e nada foi feito pelo poder público.
A denúncia do Felca é super importante. A questão que fica é porque demorou-se tanto a tomar medidas efetivas, se essas questões já estão sendo denunciadas há anos?
Mais do que falar sobre as plataformas atraindo usuários por meio de conteúdos explícitos envolvendo menores, resta exigir que o poder público coloque em vigor o ECA, que já é mais do que suficiente para abarcar as questões envolvendo as Redes Sociais, pois tudo já está devidamente tipificado sobre os temas que envolvem privacidade e proteção de menores.
Como a questão toda não envolve somente os pais que expõe seus filhos ou permitem a exposição, mas sim as pessoas por trás desses perfis maliciosos que engajam nesse tipo de conteúdo, o debate passou a ser regulamentação das redes, assunto que gera desconforto político, uma vez que muitos se aproveitam de perfis anônimos para inflar as suas próprias redes e gerar falso engajamento. Se cada pessoa fosse identificada como pessoa real, quantos seguidores figuras públicas, entre eles os políticos, teriam de fato em suas redes?
Ou seja, o debate tomou uma outra direção e perde força na sua questão mais importante: proteger crianças e adolescentes de predadores, inclusive, da exploração familiar.
Novamente, o ECA é mais do que suficiente e o Ministério Público acaba sendo muito lento para lidar com essas questões que, pelo visto, com a exceção do YouTube que ao menos tomou medidas efetivas, não contaremos com a colaboração das outras plataformas META, Tik Tok e Kwai.
Lembrando que não é apenas a exploração visual dessas crianças. Já cansei de ver lives de crianças doentes e em situação de vulnerabilidade sendo exploradas para angariar fundos que não sabemos se serão destinados de fato aos cuidados dessa criança. Aqui no Brasil, pais já foram presos por alegar explicitamente que explorava a condição da filha deficiente para levantar fundos. Lembrando que as pessoas mandavam ajuda na intenção de esse valor ser revertido em cuidados com a menina, mas o valor foi usado pelo pai para comprar carro e gastar com damas da noite, debochando, inclusive, dos doadores, conforme matéria do G1.
Moral da história: se a criança não pode se proteger sozinha, sua imagem não deve ser explorada por ninguém, nem seus pais. O Estado, nesse caso, precisa ser firme e eficiente. Mesmo as crianças artistas eu considero um problema que os pais possam, por exemplo, gerenciar as suas contas, uma vez que não é competência da criança gerar condições de vida melhores aos seus pais e família. Essa não é uma responsabilidade da criança, por mais talentosa que ela seja. Todo e qualquer dinheiro que uma crinaça conseguir, deve ser investida em um banco que só ela poderá mexer após a vida adulta. Acompanhamos o caso da Larissa Manoela, que foi atriz mirim na SBT, em que mesmo após a maior idade, seus pais não passaram para ela os direitos e valores que a ela cabiam, provando como mesmo os pais podem se tornar os piores algozes de seus filhos por interesse prórpio.
Esse é um debate longo e que precisa ser levado com seriedade pelo bem de nossas crianças.
A seguir, vejo a denuncia realizada pelo Felca em seu canal no Youtube:
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